24 de jan. de 2012

As maos soterradas
na maresia do verbo,
cores sem lei nem governo e
uma certa celebraçao ao buraco do tempo.
A pincelada escura no músculo do ombro esquerdo,
o nascimento da tinta ressequida
em meio as fábulas,
ao vídeo,
ao vácuo.
Se o artista se adianta muito
basicamente é lírico,
se se perde, com o rosto cantando à beira do abismo,
o sabor da dor é carniça!

Miriam Costa

3 de jan. de 2012

ócio-osso

ahh seu cachorro vagabundo
que dizem ser o príncipe das trevas
sai pra ladrar toda madrugada
despedaçando o sossego, seus uivos maldosos
guia as sombras curvas à rua deserta
sabes sempre o caminho de casa

ahh seu cachorro safado
atrapalhado anda atrás das namoradas
cheirar fezes frescas e um poste pra urinada
desocupado até achar um cio, osso
carpir vacilos de outros, vagabundos

se uma donzela inocente se apresente
baixa a guarda e recolhe os dentes
dá a pata e se desarranja doido
faz-se bobo com a língua à mostra
tudo por um pedaço de biscoito
mesmo um banho de perfume, desgostoso

mas quando a recompensa lhe falta
sai à agourar gatos e a passarinhada
volta à lama e desenterra a carniça
se esfrega e rola feito lombriga
vai se exibir sórdido fedorento

Beto Matos