17 de jan. de 2008

Troco meu revólver por:
COMIDA
LAZER
EDUCAÇÃO
E MORADIA.

Miró, poeta de rua.
Nego bom e nego ruim

Nego bom nego ruim,
Nego branco nego negro,
não faz nenhum mal pra mim,
que eu já não tenho emprego.
Em minhas mãos sinto fraqueza.
Nem seguro a vela acesa.
Já não tenho mais defesa
contra o time da “nobreza”.

Quero ouvir com mais clareza.
Quero ver pra ter certeza.
Sentir cheiro de franqueza
quando falar de pobreza.

Todo dia com certeza,
tem faisão naquela mesa
enquanto, ai deus, que tristeza
eu mato a velha e magra rês.
Pois o leite não sustenta
os meus filhos e um se atenta.
Vai correndo pro vizinho roubar milho pra polenta.

E a “nobreza” se lamenta.
Diz: “de tudo a gente tenta”.
E pra acabar com a morte lenta
inté esquadrões inventa.
Nunca soube o quê é perder.
Já nem sei mais o que é vencer.
De lutar na vou parar.
E aconselho o mesmo a vocês.

Já não tenho o punho forte,
já não bato o pé no chão .
Mas ainda não temo a morte, sul ou norte: fome ou pão...

Neste mundo o que mais falta,
Eu vos digo e digo alto:
é cultura, e das mais altas,
mesmo em ruas sem asfalto.
E a “nobreza” se lamenta.
Diz: “de tudo a gente tenta”.
E pra acabar com a morte lenta,
[veja]
Inté esquadrões inventa.

Chico Melo
Terei Virtude?

Quando eu vir tudo
terei virtude.
Quando eu vir, tudo eu terei,
Virtude.
Quando eu vir tudo eu,
terei virtude.
Quando eu vier, vir tudo,
com virtude, terei tudo
Quando tudo vier, virei,
virtude terei de ter.
Quando tiver virtude,
terei nada
e será tudo.
Tudo é virtude.
Será nada, sem virtude.
Vejo, agora, parte.
Parto.

Pedro Campos
Alargo sonhos
Elasteço limites
Burlo trâmites
Explodo em tráfego
Tráfico de sentimentos
Momentos temos
Momenâneo somos

O arco que sou e envergodobra-se infinitamente
Se enxergo este mar aberto e navego quieto
Doce da certeza
De uma vida bela posta

Queria dissecar a consciência
E descobrir as formas
Do aparente incontrolável
É assim amadurecer
Ter a cada dia o prazer
De supostamente aprendero que interiormente já se sabia

Botei meus sonhos no prego
Pra sustentar uns delírios

Kleber Gutierrez
Um lugar no nosso espaço

A mim parecia assim, um momento, prolongado,
levemente modificado a cada momento seguinte, para
que não me chateasse, porém, só levemente, porque
mudanças bruscas me pareceriam teatro e eu não
sentiria que, na verdade, movia-me.
Um lugar de vozes, outrora de um silêncio preenchido
por tantas lembranças de sons. Nem um minuto sequer,
por respeito que fosse, de total amplitude vácua, de
espasmo, nunca estava nula enfim, mas sempre no
ritmo que antecedia o momento, que já dito, nada mais
era do que prolongado
Um lugar de filtros e válvulas de escape, o que sabia até
o momento vestia-me de coragem e assim eu existia
para quem percebesse, e uma outra realidade, tantas
outras realidades, vivas, no mesmo lugar, aceitariam ou
desprezariam o que eu oferecia sem saber, despejando
em seguida, uma concepção barata, vulgar e ofensiva,
elevando o mínimo exposto ou empobrecendo mais um
milagre que, ainda que escondido, respirava e
repensava em todos os cantos do lugar.
Assim me parecia o que venho fazendo, colocando
respiração a respiração, uma perna na frente da outra,
ou entrelaçando-as num momento de respiração maior.
Assim eu me enxergava, de dentro de outras pessoas
que eram um mistério, não menor do que eu era a mim.

Tatiane Bernardi
Paula encheu a cara
E disse pra si mesma
Quem ele ta pensando que é?
Velho cético escritor de merda
Secou uma garrafa de conhaque
Tomou Valium
E tacou fogo na quitinete.

Miro, poeta de rua
Soneto da Abolição

Posto e enjaulado em favelas.
Novo local, onde iras fazer fama.
Infeliz exilado ao céu proclama
Lamentos perdidos em sórdidas ruelas.

È a abolição, grito preso na goela.
Troca o chão pela cama.
Lavar-se, tirar a lama.
Soltar os grilhões, ter algo na panela.

Agora na mente, liberdade.
Há um olhar de devaneio.
Nas lembranças da vida, saudade.

O tempo passa, estou no meio.
Meio do bem, meio da maldade.
Fruto do fim, semente da sociedade.

Adelson Santana
Lentamente como um corte
grande e profundo
passo a desacreditar do amor.
Tenho medo de vê-lo como
borboletas que só vivem 24 horas
mas elas insistem em
sobrevoar minha luz


Cada vez que ancoro meu barco
é tão somente para
repousar 24 horas
e, como numa lei, volto
ao grande mar
sozinho e aflito.

Autor desconnhecido.
Hora bolas

Quisera e não pudera ser tantos
Que a vida lhe poupasse de prantos
Perdi todo o cuidado por mim
E o que me falta algo que não fosse triste assim
Quero a cronicidade das horas
De poder voltar a cada novo dia
Como se apagasse o ontem
Com a oportunidade de corrigir o que foi ruim
Mas tudo já foi gravado no impiedoso calendário
E a folhinha do espírito santo traz nova mensagem
Farei diferente tudo de novo
Em mais um capítulo deste delicioso martírio
Que é a incerteza das horas
Horas doces, tão rápidas
horas amargas , de longas esperas
horas certas, do rádio a avisar
horas de nada fazer
os relógios param, nem que seja só por um instante
e combinamos ninguém muda e o registro já está feito
não conheço ninguém que ontem era íntimo
serei outro a partir de hoje - o de sempre

Christiano de Almeida Dutra
Estranhos íntimos

Café descafeinado
Leite desnatado
Cidadão sem cidadania
Adoçante sem açúcar
Amor sem amante
Estrada sem caminhos
Insônia sem sono
Alegria descontente
Gozo sem risada
Confiança cética

Christiano de Almeida Dutra
Poema-panfleto

Preso por vender livros
Levo minha liberdade comigo
Livros
Presos
Estão prendendo
A língua que falamos
A língua de Eulália
Estão caindo de pau
No Curso de Lingüística Geral
Estão levando os livros
Para inquérito policial
Ficção e romances impedidos
É proibido
Preso por vender livros

Minha caneta está grávida
Esta quebra é sintática
Estão levando preso Madame Bovary
O Pai Goriot, Lord Jim, Quincas Borba
E toda Ilustre Casa de Ramires
Que palavra busco no dicionário:
Retirada/Repressão. Que dicionário?
O dicionário foi sentenciado
Seja ele inglês espanhol latim hebraico
Vários Escritos presos
Presos Gregório, Florestan, Caio Prado Jr.
E os Lusíadas estão proibidos
Preso por vender livros

Cláudio Laureatti
Prescrição Médica

As mocinhas da aula
de canto não tomam
gelado, não caem na
noite, não se expõem a
correntes de vento,
fumar nem lhes passa
pelas cabecinhas
e nunca ouvem Maysa.

Paulo Ferraz

Torpor



Por um momento pretendo manter o controle
Firmo meus pés no chão
Ohos atentos à minha volta
Planejar, projetar,progredir
Refletir
È importante revisar os acontecimentos recentes
De repente, por um lapso
Ou se é caso pensado, não sei
Procuro a insanidade a todo custo
Abrindo mão de acordos
Auto-pré-estabelecidos comigo mesmo
E mais ninguém
E mergulho no vinho
E me embriago
E quando o torpor por vir
Me agarro com todas as forças
E prendo por horas, dias, semanas, segundos
Aí dentro crio o meu mundo
Então tudo passa logo
E acontece que
Antes mesmo da ressaca
Retoma a voz dentro de mim a gritar
Ego, super-ego
É, o ID não poderia estar sozinho
Lúdico
Nestas questões me pego a pensar aflito
Se devo ou não ter controle
Pois as sensações que invadem o meu peito
E que com a velocidade de um turbilhão
Entram e saem, explodem
Estas, amigo, já conheço de longa data
Pois sempre as carreguei comigo
Não respeitam minha vontade
Muito menos são previsíveis
Sou marionete delas, e gosto, e vivo
E olha que nem falei de amor ainda.

Pedro Campos

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